CASAS DE FARINHA – RAÍZES DA SERRA DO ROSÁRIO

O documentário mostra de forma primorosa como as casas de farinha representam o centro da cultura popular da região da Serra do Rosário. Ao invés de apenas retratar o processo de produção da farinha de mandioca, o filme revela como essas construções historicamente serviram como locais de encontro e fortalecimento dos laços comunitários locais. Por meio de depoimentos emocionados de membros mais velhos da comunidade, percebemos como as casas de farinha eram ponto de discussão política e de manutenção das tradições culturais, como o compartilhamento de receitas, contação de histórias e celebração de festividades típicas. Vemos também a importância desses espaços para a promoção da música e dança regionais, com celebrações que uniam vários núcleos familiares. De forma sutil, o documentário mostra que essas construções representam muito mais do que a produção de um alimento básico. Elas carregam o legado de gerações e são símbolo da resistência de uma cultura que poderia ser apagada pelo tempo. Ao mergulhar nos detalhes do processo artesanal de fabricação da farinha e retratar a alegria das festas locais, o filme valoriza aspectos essenciais da identidade dessa comunidade, mantendo viva sua memória para as novas gerações.

Uma curiosidade sobre a obra é que, durante as gravações do documentário nas casas de farinha, muitos dos depoimentos mais emocionantes não estavam programados. À medida que íamos filmando, os moradores mais velhos, espontaneamente, começaram a compartilhar histórias de suas infâncias, lembrando de antigas canções e danças que costumavam ser realizadas nesses espaços. Essas memórias não estavam inicialmente no roteiro, mas acabaram se tornando momentos cruciais no filme, destacando a forte conexão entre as tradições culturais e a vida cotidiana na caatinga. Essa espontaneidade enriqueceu o documentário, mostrando que a verdadeira essência dessas comunidades vai muito além do que se pode planejar.